Módulo II
“Saúde na escola”
Vídeo aula - 28
Depressão
na infância e adolescência
Depressão
é uma doença grave. Segundo a Psiquiatra Sandra Scivoletto, professora de
medicina da Universidade de São Paulo, se não for tratada adequadamente,
interfere no dia a dia das pessoas e compromete a qualidade de vida. Nos
adultos, é mais fácil de ser diagnosticada. Eles se queixam e, mesmo que não o
façam, suas atitudes revelam que não se sentem bem e a família percebe que algo
de errado está acontecendo. Com as crianças, é diferente. Elas aceitam a
depressão como fato natural, próprio de seu jeito de ser. Embora estejam
sofrendo, não sabem que aqueles sintomas são resultado de uma doença e que
podem ser aliviados. Calam-se, retraem-se e os pais, de modo geral, custam a
dar conta de que o filho precisa de ajuda.
A
criança tem grande dificuldade para expressar que está deprimida. Primeiro,
porque não sabe nomear as próprias emoções. Depende do adulto para dar o
significado daquilo que se chama tristeza, ansiedade, angústia. Por isso, tende
a somatizar o sofrimento e queixa-se de problemas físicos, porque é mais fácil
explicar males concretos, orgânicos, do que um de caráter emocional.
Alguns
aspectos do comportamento infantil podem revelar que a depressão está
instalada. Por natureza, a criança está sempre em atividade, explorando o
ambiente, querendo descobrir coisas novas. Quando se sente insegura, retrai-se
e o desejo de exploração do ambiente desaparece. Por isso, é preciso estar
atento quando ela começa a ficar quieta, parada, com muito medo de separar-se
das pessoas que lhe servem de referência, como o pai, a mãe ou o cuidador.
Outro ponto importante a ser observado é a qualidade de sono que muda muito nos
quadros depressivos.
Na depressão infantil, o sono
começa a ser interrompido por pesadelos e o medo de ficar sozinha faz com que
reclame e chore muito na hora de dormir. Não é o choro de quem quer continuar
brincando. É um choro assustado, indicativo do medo que está sentindo o tempo.
Existem.
Como nos adultos, luto, perdas, separação dos pais, dificuldade de adaptação a
situações novas, mudança de escola e de domicílio podem gerar estresse, que vai
desgastando a criança e conduzindo a um quadro depressivo. No entanto, na
maioria dos casos, existe um componente hereditário, genético, mais
significativo do que nos adultos, responsável pelo desencadear quadros de
depressão na criança.
Crescer
é doloroso. Só crescemos quando o incômodo é maior do que o medo da mudança.
Aí, tomamos coragem e damos um salto. Isso acontece ao longo da vida e na
infância inteira. A criança tem medo de dormir fora de casa, mas, convidada por
um amigo, pensa – “Se eu não for porque estou com medo, não vou poder brincar
com meu amigo” – e a vontade de estar com ele supera o medo. A criança
deprimida não tem essa vontade e, consequentemente, não encara os desafios.
Retomando as reações da criança normal, diante da dificuldade ela se retrai,
fica mais quieta. É um comportamento de proteção, desejável, que evita
situações de maior risco. Entretanto, a partir do momento em que se sente mais
confiante, encara e vence o obstáculo. Isso é motivo de enorme alegria que a
ajuda a fortalecer a autoestima e a aumentar a autoconfiança.
A
criança deprimida não dá esse salto. Aliás, não tem autoestima, sente-se
permanentemente incapaz, não enfrenta desafios. Como é mais difícil desistir do
que tentar, vai sofrendo um afunilamento das atividades.
A
adolescência é uma fase de crises, mas de crises extremamente breves, fugazes.
No mesmo dia, pela manhã, o adolescente é a pessoa mais infeliz do mundo e, à
noite, o mais alegre, porque conseguiu enfrentar e resolver os problemas que o
afligiam. No deprimido, o processo da crise é longo, permanente.
Os pais
têm enorme resistência em entender esse comportamento como doença. A primeira
leitura é interpretá-lo como erro de criação e sentem-se culpados. Na grande
maioria dos casos, a criança é encaminhada para psicólogos e só depois de um ou
dois anos, quando a terapia não resolveu, é que procuram outro profissional.
Felizmente,
o suicídio infantil é raro, porque a criança tem uma visão diferente da morte.
Não a vê como fim do sofrimento. É como se fosse um sono do qual acordará
depois.
Na
infância, o mais comum é surgir um comportamento que chamamos de parassuicida.
Acidentes podem acontecer com todas as crianças, mas com a criança deprimida
são frequentes, porque ela não se protege, cai da árvore, é atropelada,
arrebenta-se andando de bicicleta. Mal se refez de um, está metida em outro
acidente. Parece que nunca aprende a resguardar-se.
Na
adolescência, a intensidade dos sentimentos e emoções aumenta. Adolescentes são
mais imediatistas e querem resolver rápido a situação que tanto os incomoda.
Por isso, num impulso, em momentos de extrema angústia, cometem suicídio. É
muito difícil perceber neles uma ideação suicida estruturada e planejada ao
longo do tempo.
Mais uma vez cabe aos pais e professores ficarem atentos. Há
de se criar uma rede social que vai ajudar o jovem com problema em todos os
contextos que ele convive. Não adianta em casa ter uma postura e na escola
manter-se outra ou vice-versa. A ajuda somente será efetiva se todos
os âmbitos que a criança ou adolescente convive estiverem conectados.