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domingo, 25 de novembro de 2012

Vídeo aula 1 - A escola e as relações com a comunidade



Módulo II 
“Educação comunitária, saúde e cidadania na escola”
 Vídeo aula - 1

A escola e as relações com a comunidade




Quando comecei a dar aula nessa escola municipal ela ficava em um bairro rural, mas com o tempo a cidade cresceu em sua direção e hoje não é mais considerada zona rural. Bairro predominantemente residencial com 97,34% de seus endereços residenciais. Há mais ou menos umas mil trezentas e noventa e sete casas em torno da escola. Devo ressaltar que não há praças, nem rede de esgoto para todos os moradores. A situação socioeconômica dos moradores é baixa. Sua ocupação se deu em lotes grandes vendidos aos moradores que construíram suas casas do jeito que foi possível. A única rua asfaltada é a que o ônibus passa que por sinal é a rua da escola. A escola que vai da educação infantil até o nono ano agora é grande e bem ampla com oitocentos alunos.
Quis detalhar algumas características do bairro para explicar o que vem a seguir.
Há uns seis anos eu dava aula num segundo ano, do Ensino Fundamental, quando percebi que tinha dois alunos que eram irmãos e vinhas sempre com umas feridas pelo corpo. Eu perguntava  e eles me diziam que tinham se machucado. Passado o primeiro bimestre, aquelas feridas continuavam e cada hora em uma parte do corpo. Foi quando junto com a diretora chamamos a mãe que nos explicou que todos dormiam no chão porque não tinham cama, e aquelas feridas eram causadas por mordidas de ratos.
Fiquei muito impressionada e procurei saber a situação em que viviam bem a fundo. Uma das coisas que descobri foi que oitenta por cento dos pais dos alunos guardavam material para reciclagem: garrafas pet, latas, papelão e tudo que desse para vender.



Pensando nessa situação montei um projeto de leitura baseado no livro “Duda cata tudo”, de Sheila Kaplan, até porque minha turma era um segundo ano, e como justificativa coloquei que a educação ambiental é um processo participativo, onde o educando assume o papel de elemento central do processo de ensino/aprendizagem pretendido, participando ativamente no diagnóstico dos problemas ambientais, de saúde e de busca de soluções, sendo preparado como agente transformador, através do desenvolvimento de habilidades e formação de atitudes, através de uma conduta ética, condizente ao exercício da cidadania.
Saímos então para fazer uma pesquisa de campo. Visitamos muitas casas, principalmente as dos alunos. Constatamos a maneira inadequada de acumular todo aquele material no fundo do quintal. Voltamos para a escola e fizemos pesquisa de combate aos animais prejudiciais para nossa saúde, entrevistamos os moradores, estudamos sobre a reciclagem, o reaproveitamento e a reutilização de materiais, origem e destino do lixo na nossa cidade, e  o desperdício.


Nessa fase conseguimos envolver toda a escola porque os irmãos estudavam em outros anos e também eram atingidos por essa conduta inadequada dos pais.
Trouxemos a Cooperativa Amigos do Lixo da nossa cidade para ensinar uma forma mais adequada de juntar todo o material. Houve palestras e visitas nas casas. Acabamos por movimentar todo o bairro porque chamamos a vigilância sanitária, o postinho médico para nos orientar e até a associação protetora dos animais que fez várias castrações nos animais dos moradores.
Na sala de aula trabalhamos muito com o dicionário, elaboramos panfletos para indicar os dias das palestras e visitas dos profissionais da área, calendário, higiene pessoal, vários tipos de textos, produção escrita nas entrevistas, questionários, construímos uma maquete do bairro com suas cinco ruas, visita ao parque ambiental onde era o lixão da cidade, e principalmente montamos uma carta de compromisso onde todos participaram primeiro em suas salas de aula, depois junto com seus pais, e mais tarde em uma assembleia registrada em ata, que tratava de ações que respeitassem o meio ambiente, a saúde e o “ganha pão” dos moradores.



















Com esse projeto conseguimos ampliar os espaços educativos e tivemos a comunidade como espaço de aprendizagem. Rompemos os muros da escola e envolvemos diretamente as famílias que resultou numa melhor qualidade de vida a todos. Pudemos valorizar o entorno da escola de uma maneira intencional contextualizando o conteúdo e articulando ações positivas tendo o aluno como protagonista.



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