Módulo II
“Educação comunitária, saúde e
cidadania na escola”
Vídeo aula - 1
A escola e as
relações com a comunidade
Quando comecei
a dar aula nessa escola municipal ela ficava em um bairro rural, mas com o
tempo a cidade cresceu em sua direção e hoje não é mais considerada zona rural.
Bairro predominantemente residencial com 97,34% de seus endereços residenciais.
Há mais ou menos umas mil trezentas e noventa e sete casas em torno da escola.
Devo ressaltar que não há praças, nem rede de esgoto para todos os moradores. A
situação socioeconômica dos moradores é baixa. Sua ocupação se deu em lotes
grandes vendidos aos moradores que construíram suas casas do jeito que foi
possível. A única rua asfaltada é a que o ônibus passa que por sinal é a rua da
escola. A escola que vai da educação infantil até o nono ano agora é grande e
bem ampla com oitocentos alunos.
Quis detalhar
algumas características do bairro para explicar o que vem a seguir.
Há uns seis
anos eu dava aula num segundo ano, do Ensino Fundamental, quando percebi que tinha dois alunos que
eram irmãos e vinhas sempre com umas feridas pelo corpo. Eu perguntava e eles me diziam que tinham se machucado.
Passado o primeiro bimestre, aquelas feridas continuavam e cada hora em uma
parte do corpo. Foi quando junto com a diretora chamamos a mãe que nos explicou
que todos dormiam no chão porque não tinham cama, e aquelas feridas eram
causadas por mordidas de ratos.
Fiquei muito
impressionada e procurei saber a situação em que viviam bem a fundo. Uma das coisas
que descobri foi que oitenta por cento dos pais dos alunos guardavam material
para reciclagem: garrafas pet, latas, papelão e tudo que desse para vender.
Pensando nessa situação montei um projeto de leitura baseado no livro “Duda cata tudo”, de Sheila Kaplan, até porque minha turma era um segundo ano, e como justificativa coloquei que a educação ambiental é um processo participativo, onde o educando assume o papel de elemento central do processo de ensino/aprendizagem pretendido, participando ativamente no diagnóstico dos problemas ambientais, de saúde e de busca de soluções, sendo preparado como agente transformador, através do desenvolvimento de habilidades e formação de atitudes, através de uma conduta ética, condizente ao exercício da cidadania.
Saímos então
para fazer uma pesquisa de campo. Visitamos muitas casas, principalmente as dos
alunos. Constatamos a maneira inadequada de acumular todo aquele material no
fundo do quintal. Voltamos para a escola e fizemos pesquisa de combate aos
animais prejudiciais para nossa saúde, entrevistamos os moradores, estudamos
sobre a reciclagem, o reaproveitamento e a reutilização de materiais, origem e
destino do lixo na nossa cidade, e o
desperdício.
Nessa fase
conseguimos envolver toda a escola porque os irmãos estudavam em outros anos e
também eram atingidos por essa conduta inadequada dos pais.
Trouxemos a
Cooperativa Amigos do Lixo da nossa cidade para ensinar uma forma mais adequada
de juntar todo o material. Houve palestras e visitas nas casas. Acabamos por
movimentar todo o bairro porque chamamos a vigilância sanitária, o postinho
médico para nos orientar e até a associação protetora dos animais que fez
várias castrações nos animais dos moradores.
Na sala de
aula trabalhamos muito com o dicionário, elaboramos panfletos para indicar os
dias das palestras e visitas dos profissionais da área, calendário, higiene
pessoal, vários tipos de textos, produção escrita nas entrevistas,
questionários, construímos uma maquete do bairro com suas cinco ruas, visita ao
parque ambiental onde era o lixão da cidade, e principalmente montamos uma
carta de compromisso onde todos participaram primeiro em suas salas de aula,
depois junto com seus pais, e mais tarde em uma assembleia registrada em ata,
que tratava de ações que respeitassem o meio ambiente, a saúde e o “ganha pão”
dos moradores.
Com esse projeto
conseguimos ampliar os espaços educativos e tivemos a comunidade como espaço de
aprendizagem. Rompemos os muros da escola e envolvemos diretamente as famílias
que resultou numa melhor qualidade de vida a todos. Pudemos valorizar o entorno
da escola de uma maneira intencional contextualizando o conteúdo e articulando
ações positivas tendo o aluno como protagonista.
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